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Se Ame como Você É - Mas com Botox, Procedimentos e Dieta Detox

Foto do escritor: N3ssa UN4RTificialN3ssa UN4RTificial

Atualizado: há 19 horas



Ouça o Artigo (Sem Edição e Sem Cortes :P)gravado por N3ssa UN4RTificial

Ah, o mantra moderno: “Se ame como você é.”. Uma frase tão nobre quanto hipócrita em um mundo onde o Botox é mais comum que o café da manhã. Seja Bem-vindo ao circo da autoaceitação, onde os malabaristas equilibram seringas de preenchimento facial enquanto recitam seus slogans de defesa ao amor próprio.


O Mito da Autoestima de Boutique


“Conhece-te a ti mesmo.”, dizia Sócrates. Mas a indústria reformulou essa máxima para “Conhece-te a ti mesma e descobre tudo o que precisa melhorar.”. E assim surge um ciclo perverso: a ideia de que autoestima não é um estado de espírito, mas sim um kit de skin-care de sete passos.

 

O conceito de autoestima foi sequestrado e transformado em um produto Premium. Você já reparou como as campanhas de beleza dizem que seus produtos vão “nos empoderar”? Curioso, porque o empoderamento real jamais dependeria da compra de um batom de 300 reais.

 

Apesar que, até certo ponto eu entendo, pois amar-se como se é não significa abraçar a decadência cutânea com resignação. Significa, na verdade, reconhecer que a perfeição natural é uma falácia e que há meios eficazes para aperfeiçoar a obra do acaso.

 

Tanto nós quanto a ciência, possuímos o conhecimento de que o corpo humano é uma máquina biológica programada para a obsolência. Nietzsche já dizia que ”… o homem é algo que deve ser superado…” - e por mais que saibamos que ele não se referia a Industria da Beleza - porque não nos superar com uma agulhada estratégica de toxina botulínica? Que mal a nisso?!

 


uma escultura de uma mulher

Somos como escultores de nós mesmos, constantemente retocando nossa própria arte. Michelangelo olhou para um bloco de mármore e viu Davi. Nós olhamos no espelho e vemos um potencial upgrade.

 

Digamos que essa ironia toda é tão palpável quanto aquele suco detox que tomamos para “limpar” nosso organismo dos pecados alimentares do fim de semana.


Detox da Hipocrisia

 

A mesma sociedade que grita “Se ame como você é!” é a mesma que venera peles impecáveis e corpos simetricamente esculpidos - sem esquecer das roupas, sapatos e acessórios de grife, é claro. O mercado da “beleza” não cresce por acaso. Existe uma dúbia realidade onde a naturalidade é exaltada - e ao mesmo tempo - retocada com filtros e softwares de edição fotográfica.

 

E além disso, aqui também entra as dietas criadas para “perder aqueles quilinhos indesejados”.

 

Pegaremos como exemplo a mais sagrada das dietas. Aquela que promete verdadeiros milagres: a dieta detox. Se engana quem pensa que essa dieta serve somente para eliminar toxinas (ou a culpa pelo consumo excessivo de substâncias e bebidas alcoólicas no fim de semana). Ela também é usada para purificar nossa consciência da hipocrisia e da falta de autoresponsabilidade.


O Paradoxo do Amor-próprio Esteticamente Aprimorado


Digamos que “amar-se” é um conceito bastante elástico. Para alguns, significa aceitar-se sem filtros, sem maquiagem e sem ajuda de intervenções externas. Para outros, significa aceitar-se ao ponto de investir em aperfeiçoamento estético. Afinal, se podemos otimizar um software, por que não otimizar a própria aparência? O amor-próprio moderno é a combinação sutil entre autoaceitação e autocura cirúrgica.

 


uma mulher olha-se em um espelho

Os estoicos acreditavam que devíamos aceitar a natureza como ela é, sem resistir ao seu fluxo. Mas e se a própria natureza nos deu a tecnologia para desafiar o tempo? Seria um ultraje não usá-la. Como já dizia Oscar Wilde, “A beleza é um gênio por si só. Ela dispensa explicações.”. Logo, um preenchimento labial bem feito é um ato de genialidade.


O Maior Truque da Indústria da Beleza foi Convencer Você de que está Sempre Incompleta 

Vamos a uma pequena reflexão:

 

Imagine você acordando pela manhã e ao olhar-se no espelho você descobre que está… perfeita. Sim, perfeita, não falta nada, tudo está no devido lugar. Sua pele brilha naturalmente como se tivesse sido besuntada com o orvalho dos deuses, seu cabelo tem um volume e um brilho digno de comerciais de shampoo, seus olhos não foram parar nos joelhos e sua autoestima está mais estável que um monge em transe.

 

Agora, com essa imagem em mente pergunte-se: O que aconteceria com a indústria da beleza se esse fosse o estado natural das coisas? Simples. Ela entraria em colapso.

 

A Máquina da Insuficiência Perpétua

A grande jogada da indústria nunca foi apenas vender produtos, mas sim fabricar necessidades. Como já dizia o nosso querido Jean Baudrillard, “A publicidade não vende um produto, mas sim um estilo de vida.”. E que estilo de vida é esse? Aquele em que você precisa de um novo sérum, um novo ácido, um novo procedimento milagroso - que deixa a sua cara em carne viva - para, quem sabe um dia, alcançar um ideal que nunca existiu.

 

A verdade é que a perfeição, como conceito comercializável, precisa ser inatingível para que o mercado continue rodando. E, para isso, é necessário plantar em nós a semente da insuficiência perpétua. Sempre falta algo. Se está firme, talvez seja a simetria que falta. Se está simétrica, então é hora de investir na “beleza natural” - que, ironicamente, demanda um arsenal de cosméticos para parecer que não usamos nada.


A Beleza como a mais Moderna Religião

Nietzsche afirmou que “Deus está morto”, e talvez a indústria da beleza tenha tomado seu lugar. Ela tem seus templos (clínicas dermatológicas e spas), seus sacerdotes (influencers e esteticistas) e suas escrituras sagradas (as promessas das propagandas e das embalagens).

 

Ela te oferece um paraíso - um rosto sem marcas do tempo, um corpo eternamente jovem - mas, assim como qualquer religião bem estruturada, esse paraíso nunca chega de fato.

 

Estamos sempre na busca, sempre na penitência, sempre precisando de “só mais um produtinho...” e/ou “só perder mais uns quilinhos...”.


Autoimagem e o Mainstream

 


uma mulher usando belas roupas olha-se em um espelho

Se Michel Foucault estivesse entre nós, talvez dissesse que a indústria da beleza não vende apenas produtos, mas um modelo de vigilância internalizada. Nos observamos, nos julgamos e nos punimos antes mesmo que os outros o façam por nós. “Será que minha pele está muito opaca?”, “Meu nariz parece estranho na luz?”, “Minha testa é muito grande, melhor esconder!”, “Estou gorda demais…”. Nós nos tornamos nossas próprias carcereiras.

 

E não pense que essa opressão estética se aplica apenas às mulheres. O mercado masculino está crescendo a passos largos, afinal, homens também precisam ser convencidos de que são imperfeitos.

 

Se antes bastava um desodorante, agora há hidrantes para “a pele masculina” (como se ela fosse feita de titânio), géis rejuvenescedores e até tinturas capilares que prometem reverter o tempo - e olha que, nem estou falando das cirurgias para aumentar certas partes do corpo. O jogo é o mesmo, só mudam as embalagens.

 

 O que a Indústria Nunca vai te Contar
 

A maior heresia que nós podemos cometer contra esse império é perceber que já estamos completos. Que nossa pele, nossos traços, nossas pequenas “imperfeições” são, na verdade, apenas marcas de uma vida vivida.

 

Que o envelhecimento não é uma doença a ser combatida, mas um processo natural. Que a beleza real não é uma meta de consumo, mas um estado de ser.

 

“Nada é suficiente para quem considera pouco o suficiente.” - Sêneca.

 

E, talvez, o maior ato de rebeldia que podemos cometer hoje seja olhar no espelho e simplesmente dizer: “Estou bem assim.”


A Imperfeição como Filosofia Existencial

A indústria da beleza construiu sua fortuna em cima da ideia de que estamos sempre em falta. A perfeição inatingível é seu maior trunfo e a insatisfação é seu combustível. No entanto, a liberdade começa quando percebemos que não precisamos consertar nada, pois nunca estivemos quebradas. A beleza está na aceitação - e essa, ironicamente, não pode ser comprada.

 

Agora, se este artigo fez você repensar sua relação com a estética, ótimo! Se não, ótimo também! Até porque você é que sentirá a potência do ácido na sua cara (e no seu bolso), não é mesmo?

 

Deixe seu comentário, sugira temas e compartilhe! E, se quiser uma dose extra de informação continue explorando os artigos do blog ou vá direto para nosso backstage UN4RT, lá nós exploramos as entrelinhas da cultura, arte e sociedade. Porque no fim das contas, o conhecimento é o único skin-care que realmente perdura e transforma.

 

 

“A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade” - UN4RT

 

 

Para os masoquistas intelectuais as fontes, referências e inspirações estão aí. Vai lá ler, estudar e questionar!

 

  • Sócrates, Apologia de Sócrates (escrita por Platão).

  • Friedrich Nietzsche, Assim Falou Zaratustra e A Gaia Ciência.

  • Toxina Botulínica, substância produzida pela bactéria Clostridium botulinum, usada para reduzir rugas e outras condições médicas.

  • Michelangelo, artista renascentista italiano que criou esculturas como Davi e Pietà, além dos afrescos da Capela Sistina.

  • Estoicos, filósofos da Grécia Antiga que defendiam a virtude, a razão e o autocontrole como caminho da felicidade, aceitando o destino com serenidade.

  • Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray.

  • Rodrigo Polesso, Este não é mais um livro de dieta.

  • Jean Baudrillard, A Sociedade do Consumo.

  • Michel Foucault, Vigiar e Punir.

  • Sêneca, Cartas a Lucílio.

 

 

 

 

 


 

 

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