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Se a Vida te der Limões, Pergunte-se quem pode estar Lucrando com Isso

Foto do escritor: N3ssa UN4RTificialN3ssa UN4RTificial

Atualizado: há 19 horas



Ouça o Artigo (Sem Edição e Sem Cortes :P)gravado por N3ssa UN4RTificial

Todo mundo já ouviu, ao menos uma vez na vida, a frase motivacional clichê: “Se a vida te der limões, faça uma limonada.”. Inofensiva, otimista e quase ingênua. Essa frase nos é “empurrada goela abaixo” como se fosse uma filosofia de vida infalível.

 

Desde os primórdios da humanidade, temos o estranho hábito de transformar derrotas em frases de impacto. O que de certa forma é compreensível - pois quem gosta da ideia de que as coisas possam estar acontecendo sem um motivo, não é mesmo?

 

Mas, aqui entre nós, você já se perguntou: quem está lucrando com toda essa abundância cítrica? Quem realmente ganha com a ideia de que você deve aceitar os desafios e transformá-los em uma “oportunidade”? Porque, sejamos francos: a vida não distribui limões gratuitamente, e se estão despejando uma carga inteira na nossa direção, tem alguém tirando proveito disso.

 

O Mercado do Limões Existenciais

 

A dor sempre foi uma mercadoria valiosa. Se você acha que todas as dificuldades que enfrentamos são apenas infortúnios aleatórios que fazem parte do acaso ou do “destino”, então é melhor você repensar isso. O sofrimento humano sempre foi uma mina de ouro para aqueles que sabem capitalizá-lo.

 

O incompreendido filósofo Friedrich Nietzsche disse que “A esperança é o pior dos males, pois prolonga o tormento do homem.”. E o que fazem com o nosso sofrimento? Embalam em livros de autoajuda, transformam em cursos de produtividade, vendem em pilulas milagrosas.

 

Exagero? Quer um exemplo?


O mercado da autoajuda é uma indústria bilionária. Existe um verdadeiro império construído em cima da ideia do “mindset milionário”. Enquanto estamos aí, procurando “vencer na vida”, tem alguém vendendo o segredo do sucesso por apenas R$ 997,00 ou em 12X de R$ 83,08 sem juros. Mas calma, se você agir agora, ganha um e-book gratuito! Claro, porque tudo o que nos falta para prosperar é um webinário gravado em vídeo e um e-book de 50 páginas.

 

O que não nos contam é que o verdadeiro jogo é fazer com que continuemos comprando, afinal nós adquirimos apenas o Volume I. Dependência, vício, hábito, necessidade… chame isso do jeito que quiser.

 

Mas não me entenda mal. Não estou desmerecendo o conhecimento e o trabalho daqueles que desenvolveram sua expertise e a oferecem aos demais - eu estaria sendo hipócrita se assim o fosse. A questão aqui é o USO consciente de nossas dores afim de atingir-se um maior lucro.

 

Este artigo fala sobre aqueles que almejam apenas uma coisa: se beneficiar as nossas custas. E acredite, você ficaria admirado o quão “na cara” isso está. Somos nós que, nem ao menos percebemos. Infelizmente, isso não se trata de teoria da conspiração - antes fosse.

 

O Sistema Não Quer Você Saudável ou Morto: Ele o quer Doente (e Exausto)

 

Jean Baudrillard nos alertou para o fato de vivermos em uma realidade distorcida, uma espécie de “simulação” cuidadosamente projetada através de narrativas que nos mantêm funcionando como engrenagens produtivas. Mas Byung-Chul Han foi mais longe e descreveu nosso tempo como a era da autoexploração: “O sujeito neoliberal se explora e acredita que isso o realiza.”. Ou seja, não precisamos mais de um chefe gritando ordens. O sistema fez com que nós mesmos nos torturemos. Acreditamos que só precisamos nos esforçar mais, dormir menos, trabalhar mais horas, produzir mais e se não conseguirmos é porque não tentamos o suficiente.

 


uma mulher segura um limão na mão

E assim, seguimos na roda de hamster, sem perceber que o jogo foi armado para que poucos vençam. Enquanto uns colhem os frutos, outros ficam exaustos tentando fazer limonada com limões que não pediram.

 

Importante ressaltar que aqui, também entra o mito da meritocracia, que faz parte dessas distorções. “Trabalhe duro e você vencerá”, “Trabalhe enquanto os outros dormem.” são slogans criados para que aceitemos a exploração como se fosse uma virtude.

 

O capitalismo não quer que você descubra que as laranjas do vizinho são irrigadas com subsídio governamental. Ele prefere que você continue acreditando que tudo se resolve com mais esforço e uma mentalidade positiva. Não é à toa, que a máquina não para de produzir conteúdos sobre “resiliência” e “mindset milionário” enquanto os donos do jogo seguem multiplicando seus patrimônios.

 

A Economia do Otimismo Tóxico

 

”O otimismo é o ópio do povo.”, poderia ter dito Karl Marx, se tivesse vivido o suficiente para ver a indústria florescer - e também ver suas ideias serem praticadas e fracassarem de forma igualitária.

 

Uma coisa interessante seria: Ao invés de abraçarmos cegamente essas narrativas, decidíssemos questionar o sistema que nos bombardeia com esses limões. Como sugeria a brilhante filósofa Simone de Beauvoir, “Não se nasce mulher, torna-se mulher.”. O que tomando a licença poética, também poderia significar: “Não se nasce otimista, torna-se otimista.”. E, aparentemente, tornamos-nos otimistas comprando uma série interminável de produtos para lidar com os limões da vida.

 

Os Fins Justificam os Meios?

 

Maquiavel, se estivesse vivo, provavelmente diria que as dinâmicas de poder que estão por trás desse sistema, são de fato brilhantes. Ele já havia ensinado que “os fins justificam os meios”, e essa filosofia foi elevada a um novo patamar pelo capitalismo moderno. Criam-se problemas artificiais para depois vender-se soluções a preços de uma “banana banhada em ouro”.

 

A ideia de que “basta se esforçar o suficiente” é um engodo dos bons. Não porque o esforço seja irrelevante, mas porque ignorar as desigualdades estruturais é conveniente para quem está no topo. A laranja do vizinho é irrigada com subsídio, enquanto nós lutamos para cultivar nossos limões no deserto. Ou seja, a genialidade da exploração moderna é fazer você pensar que tudo isso é culpa sua.

 

A Metafísica do Azedume

 

Pensemos por um momento: o que são esses “limões” que a vida supostamente nos dá? Problemas no trabalho? Relacionamentos fracassados? Escassez de dinheiro? Contas a pagar? Ou seriam eles meras construções sociais, projetadas para nos manter eternamente insatisfeitos e, portanto, eternamente consumindo?

 

Como Nietzsche poderia ter dito (se tivesse uma obsessão por frutas cítricas): “Quando olhas para o limão, o limão também olha pra ti.” Profundo, não? Ou talvez seja apenas o ácido cítrico corroendo minha retina metafórica.

 

O Paradoxo do Espremedor

 

Aqui vai uma questão para fazer seu cérebro dar um nó de marinheiro: se nós fizermos limonada com todos os limões que a vida nos der, não estaremos, na verdade, perpetuando o ciclo? Quando mais eficiente nos tornamos em lidar com os problemas, mais problemas “o universo” parece jogar em nosso colo. É como se o cosmos fosse um barman sádico, sempre pronto para reabastecer nosso copo de desafios.

 


uma mulher em um mar

Com isso em mente, como seria se ao invés de aceitarmos passivamente os limões ou transformá-los em limonada, decidíssemos modificar um pouco as coisas? Imagine uma sociedade onde, ao receber um limão, as pessoas perguntassem: “Quem plantou essa árvore? Quem colheu esse fruto? Quanto de agrotóxico foi usado? Tem certeza que isso pode ser consumido? E por que diabos estou recebendo isso agora?”

 

O Grande Esquema Cítrico

 

Talvez - apenas talvez - toda essa conversa sobre limões seja apenas uma distração elaborada. Enquanto estamos ocupados fazendo limonada, os verdadeiros jogadores estão negociando futuros de laranja, monopolizando as limas e criando híbridos geneticamente modificados de toranja.

 

Edward Bernays, considerado o pai das relações públicas, foi um dos primeiros - e com certeza o mais famoso - a compreender que as emoções humanas poderiam ser manipuladas para impulsionar o consumo. Inspirado nas teorias psicanalíticas de seu titio, Sigmund Freud, Bernays ajudou a criar a sociedade de consumo moderna, onde as pessoas não compram apenas produtos, mas sim narrativas e sentimentos (Marcas).

 

O mercado da venda e exploração de dores é um reflexo direto das ideias de Bernays: primeiro, cria-se um desconforto ou insegurança (seja através da mídia, publicidade ou influenciadores), depois, vende-se uma solução que promete aliviar a angústia. Assim, o sistema não apenas lucra com os problemas, mas se torna o próprio criador deles, garantindo um ciclo interminável de consumo. Bem, agora que você sabe disso, abra suas redes sociais e analise como são vendidos produtos, cursos e etc.

 

Portanto, a solução não é apenas “fazer mais limonada” ou “jogar os limões fora”, mas sim entender o sistema que coloca os limões em nossa mesa. Questione. Quem está ganhando com isso? Como você pode jogar o jogo sem ser apenas um peão? Ao invés de engolir o otimismo forçado, aprenda a negociar suas próprias condições. Se possível, pare de comprar limonadas prontas, cultive seu próprio pomar e aprenda a vender suas próprias maçãs.

 

Repare que, o objetivo deste artigo é descortinar essas “jogadas”. De modo que, quando você resolver consumir/comprar algo, isso seja de fato sua escolha consciente e não através de um sentimento de necessidade, que na realidade, foi “plantado” em sua mente. As emoções humanas são facilmente manipuláveis e a grande maioria da população não tem ideia do que de fato significa “usar a cabeça”.

 

Um Gole do Suco de Realidade

 

Na minha humilde opinião de escritora - que passou tempo demais pensando em limões - acredito que é hora de mudarmos esse ditado. Ao invés de “Quando a vida te der limões, faça limonada.”, que tal: “Quando a vida te der limões, questione o sistema agrícola, econômico e social que levou esses limões até você e então decida conscientemente o que fazer com eles.”

 


uma mulher segura uma cestacom maçãs

A ideia de transformar dificuldades em oportunidades é sedutora, em alguns casos ajuda e faz sentido, mas também é perigosa. Nem tudo é um “aprendizado” ou uma “lição de vida”; às vezes é só exploração e/ou autossabotagem disfarçadas. Portanto, antes de aceitar a próxima dose de positividade tóxica, faça a pergunta essencial: quem está lucrando com isso?

 

Entenda, a vida não é um conto de fadas e a economia da desgraça é real. Enquanto muitos seguem tentando transformar dificuldades em oportunidades, há quem esteja as empacotando e vendendo-as como um produto.

 

O verdadeiro poder está em enxergar o sistema e não apenas jogar o jogo que criaram para você.

 

“Todos nós somos marionetes Laurie. Eu apenas sou a marionete que consegue ver as cordas.” - Dr. Manhattan.

 

Agora me diga: você está apenas bebendo a limonada ou já começou a se questionar quem está engarrafando-a?

 

Independente de você ter gostado de texto ou não, explore mais artigos aqui do blog e continue questionando. Deixe seu comentário, sugira temas, compartilhe. E se quiser acesso ao backstage do pensamento crítico, visite o site da UN4RT. Porque enquanto alguns tomam suco, outros estão escrevendo o cardápio. Obrigada pela confiança e até a próxima dose de vitamina C intelectual!



 

“A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade.” - UN4RT


 

 

Tá, vai lá pesquisar mais. Faz bem! As fontes, inspirações e referências estão aí. Pega, curte, compartilha, leia outros artigos e depois pode vazar se quiser.

 

  • Friedrich Nietzsche, Humano, Demasiado Humano e Além do Bem e do Mal.

  • Jean Baudrillard, Simulacro e Simulação.

  • Byung-Chul Han, A Sociedade do Cansaço.

  • Karl Marx, O Capital.

  • Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo e A Ética da Ambiguidade.

  • Nicolau Maquiavel, O Príncipe.

  • Edward Bernays, publicitário e teórico da comunicação que revolucionou o marketing e a propaganda ao aplicar conceitos de psicanálise ao comportamento de massa. Sobrinho de Freud, ele utilizou ideias da obra “Psicologia das Massas e Análise do Eu”, onde Freud explora como os indivíduos perdem a racionalidade quando inseridos em grupos. Bernays transformou esse conhecimento em estratégias para manipular desejos e emoções que ainda hoje caracterizam (e permitiram) a sociedade de consumo, descrito em seu livro “Propaganda”.

  • Michael Sandel, A Tirania do Mérito.

  • Dr. Manhattan, personagem de Watchmen. Retratado como um ser divino que transcende tempo e espaço.

  • Paulo Markun, A Indústria da Dor.

  • Michel Foucault, Vigiar e Punir.

  • David Harvey, A Lógica do Capitalismo.

  • Michael J. Sandel, A Política do Bem Comum.

  • Peter Kropotkin, O Anarquismo: Teoria e Prática.

  • Tim Jackson, Economia para um Planeta Sustentável.


 

 

 

 

 

 

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