Ninguém te Deve Nada: A Dura (e Libertadora) Verdade sobre as Expectativas
- N3ssa UN4RTificial
- 1 de mar.
- 10 min de leitura
Atualizado: 25 de mar.
(Alerta aos desavisados: Este texto possui sarcasmo, ironia e humor ácido. Já prepare um chá de boldo! Você vai precisar)
Todos amamos a doce ilusão de que o mundo, ou até mesmo a vida nos deve algo. Pois bem, sente-se e prepare-se para uma dose cavalar de realidade.
Sim, essa pílula é amarga e muitos se recusam a engoli-la, preferindo viver em um mundo de expectativas frustradas e decepções constantes. Mas é chegada a hora de despertar deste sonho pueril e encarar o "mundo real". Portanto, já começaremos "colocando fogo no parquinho".
A Falácia do Merecimento
Desde a mais tenra idade, somos alimentados com mentiras. Pera aí, eu explico: nós passamos a acreditar na ideia contada de que, se nos comportarmos direitinho, o Papai Noel - o Coelho da Páscoa, a Fada do Dente entre outros - nos trarão presentes. Assim crescemos e trocamos o bom velhinho (e os demais) por outras figuras: chefes, parceiros, amigos... Extremamente conveniente! Que bom que já aprendemos não é mesmo?! Nós passamos a acreditar que, se seguirmos todas essas regras, seremos recompensados.
Mas, afim de deixar isso aí mais claro, vamos a um exemplo simples:
Imagine o universo como um imenso restaurante cósmico. Você entra, senta-se à mesa e espera ansiosamente que o garçom apareça para atendê-lo com um sorriso no rosto e um cardápio repleto de maravilhas. Bem, surprise, surprise! Não há garçom. Não há cardápio. Na verdade, nem mesmo há uma cozinha. Bem-vindo ao Planeta Terra! Nesse restaurante, você é o chef, o garçom e o cliente. Por isso se quiser comer, vai ter que levantar a bunda do sofá e preparar sua própria refeição.
Como diria o sarcástico filósofo Friedrich Nietzsche: "Você tem o seu caminho. Eu tenho o meu caminho. Quanto ao caminho certo, o caminho correto e único caminho, isso não existe." O que em outras palavras significa, ninguém vai servir sua felicidade em uma bandeja de prata.
Hannah Arendt nos presenteou com uma perspectiva interessante quando disse: "Ninguém tem o direito de obedecer.". Parafraseando agora de forma mais ácida: ninguém tem o direito de esperar que a vida seja justa, simplesmente porque decidiu ser uma pessoa decente.
"A vida não é justa e graças a isso nós não recebemos o que realmente merecemos" - um provérbio budista que acabei de inventar, mas que bem poderia ser verdadeiro.
Sim, tudo isso pode parecer bem ridículo, no entanto é exatamente assim que muitos de nós agimos.
Dívida Universal e Expectativas
Muitos de nós crescemos acreditando que o mundo nos deve algo. Talvez seja felicidade, sucesso, amor ou simplesmente um tratamento justo. Mas, como a brilhante e ácida Dorothy Parker uma vez disse: "A gratidão é uma doença canina." E, aparentemente, a expectativa é uma pandemia humana.
Pense por um momento no seguinte: se todos acreditassem que o mundo lhes deve algo, quem seria o credor universal? Seria como um esquema de pirâmide cósmico, onde todos esperam receber, mas ninguém está disposto a dar.
E é aqui que entra uma verdade inconveniente: quanto mais esperamos algo dos outros, menos ficaremos satisfeitos. É como tentar espremer água de uma pedra - só ficaremos com os dedos esfolados e com uma pedra que agora nos odeia.
A escritora britânica Virginia Wolf afirmou: "Não há barreira, fechadura ou ferrolho que possas impor à liberdade da minha mente.". No entanto, somos, mestres em criar prisões mentais e a maior delas é a expectativa de que os outros nos devem algo. Esperamos que nossos amigos nos entendam sem que precisemos falar, que nossos parceiros antecipem nossos desejos e que o mundo nos recompense por simplesmente existirmos.
Vou ser honesta: ninguém está pensando em você tanto quanto você mesmo. As pessoas estão ocupadas lidando com suas próprias vidas, inseguranças e dilemas. Achar que elas têm tempo ou obrigação de atender às nossas expectativas é - no minimo - egocentrismo.
A Liberdade do Desapego
Agora, antes que você caia em um poço de desespero existencial (embora isso possa ser bastante revigorante de vez em quando), considere o lado positivo deste aparente niilismo cósmico. Se ninguém nos deve nada, nós também não devemos nada a ninguém.
Liberdade! Estamos livres para criar, falhar, tentar novamente, sem estarmos presos às correntes das expectativas alheias e de também de um reconhecimento que pode nunca chegar. Podemos viver de acordo com nossos próprios valores e desejos, sem a necessidade de aprovação externa.
Até porque - fala sério - gente feliz não perde tempo enchendo o saco dos outros. Por isso se alguém resolver encher o seu saco, saiba que essa pessoa com certeza não tem mais o que fazer e sim, ela é infeliz - mesmo que de forma inconsciente. Simples assim!
A filósofa Simone de Beauvoir astutamente já dizia: "Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância." E o irreverente Oscar Wilde também observou: "Seja você mesmo; todos os outros já estão ocupados." Se ninguém nos deve nada, nós temos toda a liberdade do mundo para sermos exatamente quem somos e/ou quem desejamos nos tornar.
A Ironia do 100% de Responsabilidade
É irônico e peculiar como, ao abdicarmos da ideia de que o mundo nos deve algo, passamos a assumir total responsabilidade por nossas vidas. Não podemos mais nos dar ao luxo de terceirizar culpas, pois, essa história de culpar o destino, os astros ou os vizinhos pelo que acontece de ruim - de bom ou até mesmo quando não acontece nada - simplesmente deixa de ter valia, desaparece. Nós somos, de fato, os arquitetos do nosso destino, pois o construímos ao longo do tempo a partir de nossas ações (escolhas).
Como disse o filósofo grego Epicteto: “Não são as coisas que nos perturbam, mas a opinião que temos delas.”. Portanto, ao mudar a perspectiva e aceitar que ninguém nos deve, podemos focar no que realmente interessa: nossas ações e nossas reações.
Digamos que com essa mudança de atitude, nós transformamos a expectativa em ação, a esperança em planejamento e o “por que eu?” em “por que não eu?”.
Digamos que nós passamos a nos parecer com o famoso gato de Schrödinger, mas com a grande diferença de: ao invés de estar vivo ou morto em uma caixa, estamos simultaneamente livres e responsáveis por nossa própria existência. Essa ideia é fascinante e aterrorizante, não é?
O Grande Paradoxo
O mais interessante, curioso e ironico é que quando paramos de esperar que o mundo nos deva algo é quando começamos a receber mais dele. Pois é, aquela velha filosofia do Soltar para Receber.
Vamos a um exemplo prático e real:
Durante os anos que morei em Berlim, trabalhei como Bartender em um bar em Kreuzberg. Geralmente, ao fim do expediente - entre 3 e 5 horas da manhã - eu ia a um outro bar situado nas redondezas do qual eu trabalhava. Lá, eu me sentava junto ao balcão, degustava um Cocktail, enquanto fumava e lia um livro. Se engana quem pensa que eu ia a este lugar em busca de interação com humanos - eu não estava nem aí para ninguém. Mas, justamente nas noites em que eu mais queria ser deixada em paz, era quando um número absurdo de pessoas estranhas procuravam iniciar uma conversa. Muitas vezes, isso ocorria com os “motivos” mais esdruchulos, que iam desde pedir o isqueiro emprestado até perguntar sobre o que eu estava lendo e em qual idioma. Em uma noite memorável me vi dando conselhos amorosos a um estranho que quis acender meu cigarro com seu próprio isqueiro - sendo que ele nem fumante era!
A brilhante Marie Curie, que certamente não esperou que o mundo lhe entregasse descobertas científicas em uma bandeja radioativa, disse: “Nada na vida deve ser temido, somente compreendido. Agora é hora de compreender mais para temer menos.”
Sobrevivência no Mundo Real
Com a frase da Marie Curie em mente, elaborei estes pequenos e singelos passos - ninguém disse que você deve segui-los!

Não espere aplausos ou tapinha nas costas por fazer o mínimo (ou o máximo).
Se resolver fazer qualquer coisa, faça por livre e espontânea vontade.
Aprenda a dizer Não.
Estude e aprenda a questionar. O conhecimento te liberta do papel de trouxa.
Pare de fazer as coisas por obrigação e faça por escolha.
Se você quer ver algo realizado, então esteja pronto para fazer o que precisa ser feito.
Aceite que gratidão é um bônus, não uma obrigação.
Você não controla nada além dos seus pensamentos, sentimentos e ações.
Não deixe as coisas importantes virarem urgentes.
Perdoar não é um sentimento é uma escolha.
Reclamações são declarações de amor aos problemas, portanto não perca seu tempo com elas.
Pare de dar conselhos os quais você não segue.
Vá cuidar da sua vida e deixe a dos outros em paz.
Se sua fala não tem a contribuir, fique em silêncio.
O que os outros pensam a seu respeito é problema deles, não seu. Portanto não tente convencer ninguém de nada.
A Filosofia do “E daí?”
Conforme declarou Nietzsche (sim, ele de novo) antes de enlouquecer (ou de tornar-se completamente consciente): “O que não me mata me fortalece”. Bem, ele talvez tenha ficado louco, mas o ponto ainda é válido. A vida vai continuar não nos devendo nada, e quanto antes nós aceitarmos isso, mais rápido poderemos começar a construir algo significativo.
Maaas talvez - e apenas talvez - nós é que devemos algo a vida. Essa possibilidade assusta ou alivia? Pois se devêssemos algo a nossa vida, o que estamos fazendo para “sanar essa dívida”? Estamos nos tornando o que de fato gostaríamos de nos tornar? Ou estamos apenas nos contentando em seguir modelos previamente estabelecidos por pessoas as quais nós, nem ao menos, conhecemos as intenções? Fica a reflexão.
Resumão para os Impacientes
O mundo não te deve nada. Nem satisfação, nem explicação, nem realização. A única pessoa que tem alguma obrigação com você é você mesmo. E isso, paradoxalmente, é a melhor notícia que você poderia receber.
Minha opinião sobre isso tudo aí
Como alguém que já esperou muito do mundo e aprendeu da maneira mais difícil, posso dizer que entender que ninguém te deve nada é o primeiro passo para uma vida mais consciente e menos frustrada. É doloroso? Sim. É necessário? Absolutamente.
Portanto não veja isso como uma sentença de desesperança, mas um convite a autonomia. Essa é a chave da gaiola que você mesmo construiu. É a permissão que você nunca soube que precisava para viver a sua vida nos seus próprios termos.
Em minha mais humilde e ligeiramente sarcástica opinião, abraçar esta “verdade” é como tomar um shot de realidade com um twist de liberdade - queima na hora, mas deixa você mais leve e possivelmente dançando com muito mais desenvoltura.
E agora, que tal sair dessa zona de conforto das expectativas e mergulhar no oceano da ação? Pois se esse artigo mexeu com suas estruturas (ou seu ego), você pode adorar explorar mais conteúdos provocativos aqui no blog.
Sinta-se a vontade para deixar seus comentários, sugestões e até mesmo compartilhar este artigo com aqueles que também pensam que existe uma grande conspiração onde o universo trama uma vendetta pessoal contra nós. E, é claro, compartilhe também com aquele amigo que ainda está esperando que o universo pague as contas dele.
No entanto, se você for alguém realmente sedento por mais conteúdos que desafiam suas percepções e talvez até a sua sanidade, não deixe de se aventurar em nosso backstage UN4RT. Pois lá, nós vamos além da superfície e mergulhamos ainda mais fundo nesses conceitos desconfortáveis.
PS: Se você chegou até aqui e está se sentindo pessoalmente atacado, ótimo. Era essa a intenção. Agora vá fazer algo a respeito, porque, bem… ninguém fará por você.
“A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade.” - UN4RT
Well, well, well… se você é como eu e gosta de ir fundo nas coisas, como se não houvesse amanhã - as fontes, referências e inspirações para este artigo estão aí. Vai lá ler. Só não vem se queixar depois e dizer que eu não avisei.
Papai Noel, personagem com origem relacionada a figura de São Nicolau de Mira, bispo nascido na Turquia em 280 d.C. A imagem dos dias atuais foi popularizada devido a ilustrações do século XIX e em 1930 através campanhas publicitárias de uma marca de refrigerante famosa.
Coelho da Páscoa, O coelho é um símbolo associado à fertilidade e ao renascimento, originando-se do antigo Egito, onde o coelho representava a vida nova. A tradição também se relaciona com a adoração de deuses da Primavera e fertilidade, como a deusa Ostara, cujo símbolo era o coelho.
Fada do Dente, figura mítica que faz parte de uma tradição infantil em diversos países.
Friedrich Nietzsche, Assim Falou Zaratustra, Crepúsculo dos Ídolos e Humano, Demasiado Humano.
Hannah Arendt, Responsabilidade e Julgamento.
Dorothy Parker, Escritora e poetisa americana conhecida por seu humor ácido.
Virginia Woolf, Um Teto Todo Seu.
Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo.
Oscar Wilde, a citação que se encontra no texto é frequentemente atribuída ao escritor irlandês conhecido por seu humor afiado, mas não há registros concretos de que realmente tenha sido escrita ou dita por ele.
Epicteto, Manual de Epicteto (Enchiridion).
Gato de Schrödinger, se trata de um experimento metafórico criado pelo físico Erwin Schrödinger em 1935, para ilustrar um paradoxo da mecânica quântica. O experimento ilustra o conceito de superposição quântica, que sugere que, até que se observe um sistema, ele pode existir em múltiplos estados ao mesmo tempo.
Berlim, capital da Alemanha e uma das cidades mais importantes da Europa. Com uma rica história, a cidade foi o centro de eventos marcantes. Hoje, Berlim é conhecida por sua diversidade cultural, vida noturna vibrante, arte de rua e pontos turísticos.
Bartender, (ou barman, no masculino) é a profissional responsável por preparar e servir bebidas em bares, restaurantes, casas noturnas e eventos. Além de misturar cocktails, ela também deve conhecer técnicas de preparo, combinações de sabores e, muitas vezes, oferecer uma experiência interativa aos clientes.
Kreuzberg, é um dos bairros mais famosos de Berlim. Faz parte do distrito Friedrichschain-Kreuzberg e é conhecido por sua diversidade, cena artística alternativa e vida noturna intensa.
Cocktail (ou coquetel em português), é uma bebida alcoólica misturada, geralmente feita com uma combinação de destilados e outros ingredientes.
Marie Curie, cientista polonesa naturalizada francesa, pioneira no estudo da radioatividade. Foi a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel e a única a receber o prêmio em duas categorias diferentes.
Vendetta, palavra que vem do italiano e significa vingança. É utilizada para descrever uma busca prolongada por retaliação, geralmente envolvendo disputas familiares ou entre grupos rivais.
Mark Manson, A Sutil Arte de Ligar o F*da-se.
Ayn Rand, A Revolta de Atlas.
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