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A Arte de Fingir que se Importa - Um Guia para Identificação de Interesseiros

  • Foto do escritor: N3ssa UN4RTificial
    N3ssa UN4RTificial
  • 10 de mar.
  • 9 min de leitura

Atualizado: 25 de mar.


Ouça o Artigo (Sem Edição e Sem Cortes :P)gravado por N3ssa UN4RTificial

“A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude” - François de La Rochefoucauld.

 

Seja bem-vindo ao fascinante mundo da hipocrisia social, onde a sinceridade é tão rara quanto um político honesto! Prepare-se para mergulhar nas águas turvas da falsa empatia, pois hoje, vamos explorar a nobre arte praticada por aqueles que fingem que se importam. Uma habilidade que muitos consideram tão essencial na sociedade moderna quanto a capacidade de sorrir e acenar enquanto aguenta-se o comportamento idiota de alguém.

 

*Importante ressaltar que essa espécie apresenta indivíduos de ambos os sexos.

 

O Grande Teatro dos Interesseiros

 

Vamos fazer de conta que vivemos em um grande teatro social, onde muitos desempenham os mais diversos papéis, mas nem todos merecem um troféu pela atuação. Neste teatro grandioso, cada indivíduo veste uma máscara cuidadosamente esculpida. Essa máscara - ou máscaras - representam papéis que nem sempre correspondem à verdadeira essência do indivíduo que as usa. Alguns destes indivíduos são chamados de "Interesseiros".

 


uma mulher sentada segura uma máscara

Eles são atores exímios que, com sorrisos ensaiados e palavras melífluas, navegam pelas interações sociais com a destreza de um maestro regendo uma sinfonia de falsidade. Esses espécimes são considerados “os meticulosos” dentro da selva urbana, dominando a arte de fingir que se importam eles constroem relações baseadas em conveniência e não em genuína empatia.


São verdadeiros professores do teatro social, capazes de derramar lágrimas com tanta convicção que até mesmo um crocodilo ficaria impressionado. Digamos que eles elevam a arte de fingir que se importam a um nivel tão elevado que até Stanislavski ficaria boquiaberto.

 

Se você, em algum momento, já se perguntou por que algumas pessoas parecem tão atenciosas até conseguirem o que querem - e depois evaporam - este guia ajudará você a identificar esses atores da tragicomédia social.

 

Um Estudo sobre o Personagem

 

O interesseiro é como um camaleão, adaptando-se às cores e nuances do ambiente para obter vantagens pessoais. Suas ações são motivadas por um cálculo meticuloso, onde cada gesto de aparente preocupação provém de uma jogada estratégica no tabuleiro das relações humanas.

 

Essa espécie de humano se molda às nossas necessidades, espelhando gostos, valores e até emoções afim de conquistar nossa confiança. Ele nos parecerá um amigo leal, um parceiro confiável ou até mesmo um colega prestativo, mas na verdade está mais próximo de um investidor: o apoio que ele nos presta tem retorno esperado.

 

Nietzsche, tão sabiamente já dizia: “O que me preocupa não é o fato de teres mentido, mas que, de agora em diante, não poderei mais acreditar em ti.”. O interesseiro não mente apenas com palavras, mas com atitudes que disfarçam intenções ocultas.

 

A Dança dos Sorrisos Falsos

 

Eu já tive o desprazer de observar esta espécie em ação, posso dizer que é como assistir a uma dança elaborada. Cada movimento é cuidadosamente coreografado para criar a ilusão de interesse genuíno. Os olhos arregalam-se em falsa preocupação, as sobrancelhas se franzem em fingida consternação e os lábios se curvam em um sorriso tão artificial quanto açúcar dietético.

 

Como disse a filósofa Simone de Beauvoir, “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.”. E como os interesseiros são cúmplices habilidosos! Eles possuem expertise em manipulação emocional e são capazes de nos fazer acreditar que nós somos realmente importantes em suas vidas - pelo menos enquanto formos úteis.

 

O Espelho de Narciso

 

Esses indivíduos frequentemente se assemelham a Narciso, personagem da mitologia grega que se apaixonou por sua própria imagem refletida na água de um lago. O interesseiro vê nos outros apenas reflexos de suas próprias ambições e desejos.

 

Suas interações são como um jogo de espelhos, onde a imagem projetada é cuidadosamente manipulada para enganar e seduzir.

 


uma mulher sentada a beira de um lago rodeada de flores

Utilizando de gatilhos mentais eles nos envolvem em narrativas que sempre culminam em algum tipo de “pedido” - não se engane, caso contrário eles não nos procurariam. E como se não bastasse, muitas vezes nos vemos oferecendo justamente o que eles querem, sem que ao menos tenhamos de fato escutado o tal “pedido”.

 

Digamos que para eles, a vida é um palco onde a seriedade é apenas mais uma máscara a ser usada conforme a conveniência.

 

O Canto da Sereia

 

Assim como as sereias da Odisseia de Homero, que com seu canto hipnotizavam os marinheiros, os interesseiros utilizam palavras doces e promessas vazias para atrair suas vítimas. Suas declarações de afeto e preocupação são como iscas lançadas ao mar, destinadas a pescar aqueles que buscam reciprocidade em um oceano de superficialidade. Portanto, não se deixem enganar, seu canto até pode ser sedutor, mas esconde um naufrágio iminente.

 

O Vocabulário do Falso Interesse

 

São linguistas extraordinários, fluentes no idioma da preocupação simulada. Eles dominam frases como “Conte-me mais sobre isso” e “Pode contar comigo sempre” com a mesma facilidade com que um político domina a arte de não responder perguntas diretas.

 

Nietzsche, que já havia profetizado a proliferação descontrolada dessa raça, disse: “Às vezes as pessoas não querem ouvir a verdade porque não querem que suas ilusões sejam destruídas.”. Justamente em função destas ilusões é que, muitas vezes, nos tornamos presas fáceis para esta espécie.

 

O Labirinto do Dédalo

 

Interagir com uma pessoa interesseira é como percorrer o Labirinto do Dédalo: cada caminho parece levar a um beco sem saída e a verdade é constantemente obscurecida por intrincadas teias de mentiras e dissimulações. A cada esquina, deparamos com novas ilusões e a saída parece cada vez mais distante.

 

Como disse Franz Kafka: “A partir de certo ponto, não há retorno. Esse é o ponto que deve ser alcançado.”. Reconhecer o interesseiro é alcançar esse ponto de não retorno, onde a ingenuidade é deixada para trás - assim como a confiança.

 

Sinais Clássicos de um Interesseiro

 

  1. Atenção sob Demanda: Enquanto for útil, você receberá mensagens, elogios e convites. Depois, só ouvirá o eco do silêncio.

  2. Empatia Performática: Expressões faciais ensaiadas, frases de apoio dignas de autoajuda e um timing perfeito para oferecer “auxílio” - desde que haja algo que possam ganhar, é claro.

  3. O Elogio Estratégico: O interesseiro sabe exatamente quando inflar seu ego, não por admiração, mas para garantir que você continue fornecendo o que ele quer.

  4. Desaparecimento Pós-benefício: Conseguiu o favor? A porta do cofre abriu? O networking foi concluído? Ele some como um mágico profissional - ou ao menos até a próxima vez que precisar de algo.

  5. Memória Conveniente: Ele lembra com precisão cirúrgica tudo o que já fez por você, mas sofre de “amnésia seletiva” e “esquecimento crônico” quando é a sua vez de receber algo em troca.

  6. Urgência Manipulada: Quando precisa de algo, tudo é para “ontem”. Mas, quando você solicita algo, ele se torna mestre na arte de adiar, desaparecer ou dar respostas vagas.

  7. Alinhamento de Valores Flexível: Ele adapta seus gostos, opiniões e princípios conforme a conveniência. Enquanto você for útil, vocês terão “tudo em comum” e jamais irão divergir em algo.

  8. Conexão Condicional: A amizade dele é forte e presente quando você está em uma boa fase. Se as coisas apertarem para seu lado, ele se torna um expectador distante.

  9. Generosidade Teatral: Ele faz questão de parecer generoso, principalmente se tiver uma platéia. Eles apreciam um show. Mas, se não houver reconhecimento ou vantagem, a “bondade” some.

  10. Vitimismo Estratégico: Se pressionado por suas atitudes, ele se faz de vítima, invertendo a situação para parecer injustiçado. A culpa sempre é dos outros, assumir responsabilidades não é com eles.

  11. Aparições Táticas: Seguem a risca o ditado “Quem não é visto não é lembrado.”. Podem sumir por dias, semanas mas ressurgem magicamente quando precisam de alguma coisa ou se pensam que você pode oferecer algo vantajoso - nem que seja para ouvi-los reclamar.

  12. Parceria de Via Única: Esperam que nos esforcemos, ajudando-os e compreendendo-os, mas quando a situação se inverte, sempre terão uma desculpa pronta para não corresponder.

 

Oscar Wilde resumiu isso tudo muito bem: “Algumas pessoas causam felicidade onde quer que vão; outras, sempre que se vão.”

 

Como Sobrevier ao Teatro da Hipocrisia?

 

  1. Desconfie da Perfeição: Se alguém parece sempre saber o que dizer e quando dizer, pode ser atuação - é essencial termos atenção e consciência em nossas relações.

  2. Teste de Reciprocidade: Interesseiros não gostam de relações desprovidas de vantagens. Observe como reagem quando precisam fazer algo sem retorno imediato. Peça para eles fazerem algo e veja quais desculpas irão usar para não fazê-lo.

  3. Evite ser um “Banquete de Favores”: Não esteja sempre disponível e não faça nada por obrigação. O interesseiro se aproveita da generosidade excessiva.

  4. Atenção ao Timing: Surgem com a precisão de relógios suíços quando precisam de algo e desaparecem com a mesma precisão quando nós é que precisamos deles.

  5.  Observe a Coerência: Palavras bonitas sem ações concretas são apenas roteiro bem ensaiado. Veja se os atos acompanham o discurso.

  6. Cuidado com a Carência Emocional: Interesseiros adoram pessoas que precisam de aprovação. Quanto menos dependente formos, menos espaço daremos para manipulações.

  7. Valorize a Autenticidade, não a Adulação: Quem bajula demais pode estar preparando o terreno para um pedido. Prefira quem elogia sem segundas intenções.

  8. Estabelecendo Limites Claros: Quanto mais cedermos, mais seremos explorados. Devemos aprender a dizer “não” sem culpa.

  9. Reparar no Padrão, não no Episódio: Todos podem falhar ocasionalmente, mas se alguém sempre desaparece quando não há vantagem envolvida, isso não é coincidência.

  10. Não cair em Chantagens Emocionais: Interesseiros usam culpa e vitimismo para nos manter na posição de doadores constantes. Não devemos nos deixar levar por histórias tristes quando o padrão já está claro.

  11. Desapego da Necessidade de Aprovação: Quanto mais buscamos ser aceitos por todos, mais vulneráveis estaremos para sermos usados. Ser seletivo significa estarmos com quem valoriza nossa presença de verdade.

  12. Preferência por Relações Equilibradas: Se sempre damos mais do que recebemos, talvez seja hora de reavaliarmos esse comportamento e consequentemente quem está se beneficiando dele.

     

Virginia Wolf disse: “Cada um de nós enfrenta uma batalha interna, e muitas vezes, a linguagem é insuficiente para expressar nossas verdadeiras intenções.”. Portanto estejamos atentos, principalmente a nós mesmos, pois, se pessoas assim se aproximaram é porque demos a elas esta oportunidade. O que podemos de fato modificar em tudo isso é: Nossa forma de pensar, sentir e agir.

 

A Sinfonia da Falsidade

 

Esta arte de fingir que se importa pode até se tratar de uma habilidade refinada por aqueles que buscam manipular as emoções e expectativas alheias para benefício próprio. É inegável que identificar os interesseiros requer um olhar atento e crítico - principalmente sobre nós mesmos - afim de estarmos capazes de ver além das máscaras e das ilusões cuidadosamente construídas. Sabemos que as relações genuínas não se baseiam em transações, mas sim em conexões reais e mútuas. Pois como já dizia Sócrates: “Uma vida não questionada não merece ser vivida.”. Então, questionemos as intenções por trás das ações e busquemos a sinceridade nas entrelinhas das palavras.

 

Afinal de contas, para ser uma “pessoa boa”, que ajuda e de fato se importa com os demais não quer dizer - nem minimamente - que tenhamos que ser trouxas! Nós só recebemos aquilo que permitimos. O que o outro faz é sobre ele, o que nós aceitamos é sobre nós. Existe uma diferença entre o que o outro faz e o que nós permitimos!

 

Aqui, também cabe uma nota de extrema importância:



uma mulher segura um arco e flecha

Não se penalize por ter alimentado uma relação com um interesseiro - independente do tempo que possa ter durado. Nós não possuímos o poder de mudar os outros ou as situações passadas, mas podemos mudar a nós mesmos. Com isso em mente, não percamos nosso precioso tempo buscando justificativas e/ou explicações por parte destas pessoas. Se você não tiver a chance de se afastar, talvez possa escolher sorrir, acenar e fingir demência - você não deve explicações sobre seus atos a ninguém, a não ser á aqueles que você acredita que deve.

 

No fim é melhor encararmos isso como um incentivo para colocarmos nosso foco no que realmente interessa: Nossa vida e nossos projetos/sonhos.

 

Nunca é tarde para lembrar que “Gente feliz não enche o saco.”, então vá atrás da sua própria felicidade e deixe essas pessoas a mercê de sua própria sorte.

 

“É tolo aquele que erra o alvo e culpa o arco, ao invés de corrigir a mira.” - Sun Tzu.

 

Hora da Agir!

Você já se pegou performando no palco da falsa preocupação? Ou talvez tenha sido vítima de um mestre da arte de fingir que se importa? Deixe seu comentário com suas experiências e compartilhe este conteúdo com quem precisa abrir os olhos para o teatro da hipocrisia.

 

E se você quiser explorar ainda mais os bastidores das relações humanas e ter acesso a conteúdos exclusivos, visite UN4RT, o backstage que não utiliza máscaras.

 

Até a próxima e lembre-se: num mundo de interesseiros, o verdadeiro rebelde é aquele que genuinamente se importa. Mas ssshiiii, não espalhe esse segredo - afinal, tenho uma reputação de cinismo a manter!

 


“A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade.” - UN4RT

 

 

Ah! As fontes, inspirações e referências estão aí!

 

  • Experiência pessoal: algumas foram extremamente dolorosas pois vieram de pessoas que eu realmente considerava amigas.

  • François de La Rochefoucauld, Máximas.

  • Konstantin Stanislavski, foi um ator, diretor e teórico russo de teatro, criador do Sistema Stanislavski, um método revolucionário de interpretação baseado na verdade emocional e na construção psicológica dos personagens. Seu trabalho influenciou profunamente o teatro e o cinema modernos.

  • Friedrich Nietzsche, Assim falou Zaratustra e Além do Bem e do Mal.

  • Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo.

  • Narciso, na mitologia grega, era um jovem de extrema beleza que desprezava aqueles que se apaixonavam por ele. Como punição, os deuses o fizeram se apaixonar por sua própria imagem refletida na água. Incapaz de se afastar da água, ele definhou até a morte, e no lugar de seu corpo nasceu a flor que leva seu nome.

  • Homero, A Odisseia.

  • Labirinto do Dédalo, uma construção da mitologia grega, projetada pelo arquiteto Dédalo a mando do Rei Minos, de Creta. Foi criado para aprisionar o Minotauro.

  • Franz Kafka, O Processo (publicado postumamente).

  • Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray.

  • Virginia Woolf, Um Teto todo Seu.

  • Sócrates, Apologia de Sócrates (escrito por Platão).

  • Sun Tzu, A Arte da Guerra.

 

 

 

 

 

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